20/12/10

Frio, é Natal

Hoje encosto-me à montra daquele café largo e lixívico. Tinha caminhado até lá, sob o céu negro, carregado como costumam dizer. Eu próprio vinha carregado. Queria verter e drenar a tristeza que trazia comigo. O desespero estava estampado na minha cara e eu não o conseguia disfarçar. O edifício em frente, reparava eu no seu alto metal erguido em altura que, hoje em dia, parece normal a qualquer um. O vento gelado a dilacerar-me a face e os olhos freneticamente  à procura de mais luzes. A minha cabeça, tornara-se estanque e sob pressão. Carro, luz, vento, luz, pessoa, carros, pessoas, guarda-chuva, luzes. O desespero e a solidão inundavam-me o coração. Uma maré de água gelada que me congela o interior. Queria sentir dor, queria chorar, queria congelar, queria ficar ali. O frio é tanto. Os meus ouvidos tapam e esperam ansiosamente que as luzes gritem do alto metálico. As minhas mãos, enfiadas nos bolsos, contorcem-se às escondidas amassando o papel que não podia ser mais amassado. 
Hoje tu partes e vais embora. Tu. Tu que me davas vontade de caminhar contigo à chuva, que fazias o caminho parecer mais quente, o vento menos gelado. Tu que não sendo perfeito o eras para mim e para as minhas luzes. Foi sem dúvida, uma parte de mim que congelou para ser martelada até ao pó. No lugar dessa parte está agora um vazio e tudo em torno frio. Frio. Frio. 


Bom Natal 

Sem comentários: