21/08/10

Meia Luz

http://olhares.aeiou.pt/aalice

À meia luz disseram que eramos novos de mais, mas agora que a noite cai, nós corremos por nós. Fechem-nos bem e escondam todas as chaves. A noite, ao chegar, libertar-nos-à e à meia luz nós seremos livres.
Esquisito o facto, de nesse intermédio, todos os lugares serem novos. Eu não te reconheço e tu não me reconheces a mim. Corremos por ruas que conhecemos tão bem, e quando vemos as casas a esconderem-se [com aquela perfeição que lhes é característica] sabemos que vamos ficar a meia luz. Nenhum de nós diria que à meia luz conseguem esconder oceanos em conchas. Um oceano por concha! As nossas mentes são casas perfeitas, só que sem janelas suficientes, que ao dizerem que ouvimos vozes humanas, sabemos imediatamente que são ecos.
Não conseguimos ouvir mais nada, apenas os passos da nossa corrida sob aquela luz que é mais que [in]suficente.

# adaptado de Arcade Fire

17/08/10

Mistérios da Carne

# mysterious skin

I think I'll go home and mull this over before I cram it down my throat. At long last, it's crashed, it's colossal mass has broken up into bits [in my moat]. Lift the mattress off the floor, walk the cramps off go meander in the cold! Hail to your dark skin, hiding the fact you're dead again underneath the power lines [seeking shade]. Far above our heads are the icy heights that contain all reason.
It's a luscious mix of words and tricks, that let us bet when you know we should fold. On rocks I dreamt of where we'd stepped and the whole mess of roads we're now on.
Hold your glass up [hold it in] never betray the way you've always known it is. One day i'll be wondering how [I got so old just wondering how] I never got cold wearing nothing in the snow. This is way beyond my remote concern of being condescending. All these squawking birds won't quit. Building nothing, laying bricks.
# caring is creepy

Waris Dirie

# vénia à sua história

16/08/10

Escrevo de novo, não por ti

Coisa curiosa é esta de escrever. Não compreendo o mistérios das palavras e das suas intrincadas redes que juntas, formam grandes páginas de livros e sebentas das quais não me consigo livrar. Gosto tanto de palavras! Senhoras da sua existência. Impressas com uma força prensada de máquina, que estala o papel sempre que se bate na tecla. Leio, começo e recomeço, e ali ando a brincar com elas. A fazer-lhes confusão, tal como elas me fazem a mim. Ouço o senhor Saramago a falar e imediatamente imagino um rol de páginas brancas na minha mente. Páginas essas que são atacadas de imediato por uma máquina frenética, que imprime de uma maneira negra e não poupadora, aquelas delicadas folhas brancas. Há quem tenha esse dom! Escrever como Pensa. Pensar como Lê.
Agora volto aqui?
Sim, tudo porque quando cheguei a um telhado conhecido estavam lá os dois. Sentados a uma mesa de madeira, iluminados apenas por duas velas (e uma garrafa) que trouxeram e pela luz da lua, ténue e trémula. Rodeados de livros, ela pegara num exemplar, abrira-o na página que conhecia de cor (ou talvez que tivesse marcado o canto, com uma dobra assassina e possessiva) e lia para ele em voz alta. Ele deixava-se guiar pela voz dela. (Res)sentou-se na sua cadeira, puxou do seu cigarro e acendendo-o inalou uma baforada de fumo. Ao expeli-lo o fumo pairou até ascender à lua. Pegou no seu copo de vidro com vinho e bebeu-o. Fechou os olhos, formando uma figura asiaticamente amigável, e ali ficou a ouvi-la e a vê-la iluminar-se com a felicidade que as palavras lhe traziam e que ela bem merecia.