26/09/10

o que tu serás


És arte imposta à minha postura. Uma caixa de música que não quebra com o tempo. Lembrança reconfortante de um tempo ido. Tempo cor-de-rosa pálido e partilhado de admiração pelo futuro e por tudo o que se previa vulgarmente corrente. Foste crença oca em tudo aquilo que me ensinaste [de errado e passaste-o na mesma]. Hoje estás alegre e contente a beber o teu whisky quente enquanto eu te vejo a morrer fixada nessa miragem de areia seca emoldurada por mogno castanho que detestas. Vai, eu fico a apreender novos éteres, para que no futuro te possa voltar a ensinar alguma coisa.

23/09/10

destroi-me

prefiro pensar que estou em pleno mergulho. um mergulho enegrecido pelas águas geladas que me circundam. sinto-me calmo e pareço ouvir, sob mim, o som do meu próprio coração a bater. já bateu mais e melhor por ti. tu, foste a desgraça do meu ser. tu, que amei visceralmente. tu, que és doce e não amargo. que afagas e não destróis. tu, que consegues ser cruel! consegues emanar de ti espículas trespassantes que me quebram, ferem e quebraram. agora que os teus e os meus seis tipos de cimento não me consertam é altura de me desmoronar. é altura de deixar cair pedregulhos sobre ti. é altura de deixar o tempo esmagar. é altura de subir o rosto e edificar-me, sentir-te no pó do ar e sorrir.

Lipincot

05/09/10

só posso, gostar de te ouvir

É ouvir-te com a guitarra em punho. Dedilhando aquelas cordas e agitando todo o teu corpo ao próprio som que crias. Os teus cabelos castanhos e desgrenhados electrificam-se com todo o movimento. Enquanto tocas, a tua pele branca enrubesce e prometes que vão ser os teus últimos acordes. O coração acelera-te e tu acalma-lo. As gotas que começam a sair do teu corpo arrefecem e, com um último movimento, descarregas todo o teu antebraço em direcção ao solo produzindo notas, que por mais ondulações que tivessem não conseguiriam atingir-me. Sais porta fora e em minha casa fica a tua guitarra encostada. A electricidade dos teus cabelos e notas mudas pelo ar.
Lipincot