01/04/13


Se escrever é sentir duplamente, então já não tenho corpo e dedos que se possam mais magoar. É como estar diante de um oceano, enquanto chove lá fora, e sentir o meu olhar a esvaziar-se na tua maré ondulada. Olhar para as minhas mãos, retrácteis, cicatrizadas e sentir a electricidade no ar. Luz branca de espuma rarefeita em ar frio que vai escurecendo. Era assim que te via. É assim que te escrevo. Olhava-te com a magia das palavras na ponta dos dedos e agora, que és raio dourado e particulado, és electricidade que não morre. Espuma que não desaparece. Agora é como olhar-te no dorso da minha mão e lembrar-me do tecido de que eras feito. É rever-te em todos os corpos brancos. Olhar para outras marés e ver sempre as tuas. Agora, és todo o oceano que consiga alcançar. Agora, és todo o texto que consiga aperfeiçoar. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou a comentar neste post apenas por ser o último, e não para me dirigir em particular a ele, porque tenho estado a ler imensos: e tens uma forma tão bonita de sofrer por escrito; um sangramento tão cru. Adorei ler-te, e hei-de continuar. Já agora, as fotografias, na globalidade, são da tua autoria?