É por baixo de um tecto atapetado que nos encontramos em mera conversa circunstancial. O local é claramente asiático e nas pequenas mesas colocadas à nossa frente, pequenos objectos prateados ostentam carnes quentes. A menos de meia-luz e absortos nos fumos do tabaco fumado por outros. Sentaste-te ao meu lado naquele sofá castanho que se afundou ainda mais contigo. O tecido do sofá era perceptível através das minhas calças. Conseguia-o perceber gasto e rasgado. Não éramos os primeiros naquele local. Foste falando comigo e o teu sorriso depressa tomou dimensões que desconhecia. Falaste-me das tuas viagens à Europa Oriental e como conseguiste fotografar os edifícios marcados pela história e de como conseguiste provar as especiarias capazes de dar ânimo a todo aquele povo longínquo. Havia algo em ti que não consegui perceber e figurar de forma objectiva. A nossa conversa continuou e foste-me cativando de uma maneira suave e imperceptível no momento. Algures entre o sexto ou sétimo cigarro o meu telefone tocou. Devia ter ignorado e nunca ter atendido. Devia ter vincado preferências naquele momento, naquele local e naquela altura. Não o fiz. Ao atender deixei os teus países e, como que em surto psicótico, regressei à baixa portuense. Despedi-me com um beijo e voltei-me para ti. Tu – que não desconfiavas sequer da viagem que me proporcionavas – continuaste com os teus contos, mas apartir desse momento fiquei incapaz de viajar, de novo, contigo. A partir desse momento tudo o que se construiu foi um simples planar teu em redor de mim – preso ao mesmo chão de hoje. Quero que saibas o quanto me arrependo de não ter aberto asas de novo e de ter planado livre e tranquilamente contigo.
N.G.
Porto, algures entre Outubro de 2007 e Janeiro de 2009
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