16/08/10

Escrevo de novo, não por ti

Coisa curiosa é esta de escrever. Não compreendo o mistérios das palavras e das suas intrincadas redes que juntas, formam grandes páginas de livros e sebentas das quais não me consigo livrar. Gosto tanto de palavras! Senhoras da sua existência. Impressas com uma força prensada de máquina, que estala o papel sempre que se bate na tecla. Leio, começo e recomeço, e ali ando a brincar com elas. A fazer-lhes confusão, tal como elas me fazem a mim. Ouço o senhor Saramago a falar e imediatamente imagino um rol de páginas brancas na minha mente. Páginas essas que são atacadas de imediato por uma máquina frenética, que imprime de uma maneira negra e não poupadora, aquelas delicadas folhas brancas. Há quem tenha esse dom! Escrever como Pensa. Pensar como Lê.
Agora volto aqui?
Sim, tudo porque quando cheguei a um telhado conhecido estavam lá os dois. Sentados a uma mesa de madeira, iluminados apenas por duas velas (e uma garrafa) que trouxeram e pela luz da lua, ténue e trémula. Rodeados de livros, ela pegara num exemplar, abrira-o na página que conhecia de cor (ou talvez que tivesse marcado o canto, com uma dobra assassina e possessiva) e lia para ele em voz alta. Ele deixava-se guiar pela voz dela. (Res)sentou-se na sua cadeira, puxou do seu cigarro e acendendo-o inalou uma baforada de fumo. Ao expeli-lo o fumo pairou até ascender à lua. Pegou no seu copo de vidro com vinho e bebeu-o. Fechou os olhos, formando uma figura asiaticamente amigável, e ali ficou a ouvi-la e a vê-la iluminar-se com a felicidade que as palavras lhe traziam e que ela bem merecia.

1 comentário:

Anónimo disse...

És espião!
As minhas palmas ao texto.