É em manhãs
frias, que respiram janelas, que transpiram pétalas cinzentas de flores
anímicas que me apercebo do quão corrosivo consegui não ser para ti. Era amor
não era? Era sempre como estar perto daquele precipício do ser – de alma
exposta ao osso e à fricção dolorosa da tua imagem recorrente. Caminho
remendado pela ociosidade da minha alma que não se quis fazer pétrea. Preferiu
a mortalidade da dor e agora lateja sempre ao toque de pétalas soltas no ar. Hoje,
quase me achei imune ao pensamento que emana da tua imagem gravada na minha
pele. Ao caos turbilhante em que me colocaste. Às dores esféricas e macerantes
a que me sujeitaste.
4 comentários:
Certo dia alguém nos docilmente oferece uma dose de ferimentos e outra tanta de "dores esféricas". Passamos a executar o doloroso ofício dos sedativos e a aprender truques para enganar a memória. Eventualmente acabamos por florir enfim esquecimento e depois as mazelas que ficam servem já só de estórias para crianças.
Ainda bem que regressaste, tenho uma especial empatia pelas tuas palavras.
Que bom ler-te de novo!
Em fase de mudança muda o pensar o sentir e o expressar..
É bonita a ilusão... a de que temos essa ridicula imunidade à imagem que nos crava na pele algum tipo de incomodo...
Que as manhãs frias e ricas em petalas cinzentas não te deixem cair os olhos para o escuro da noite e que aqueças a alma nessa dura fricção, como quem diz, não a deixes congelar.
o caos de alguém que passa a ser o porto seguro de uma escrita linda. Passo a seguir e a ler. bjs
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