30/07/11


Acendo o meu cigarro, sozinho e embrulhado em pensamentos elásticos que tomam a forma e vão até onde quero. Ao contemplar o que me rodeia surges-me tu, sempre, como coisa malévola que não consigo desmistificar. O calor do sol na minha pele atenua-se e dá lugar à sensação de gotas geladas que trazes contigo. Dedos que me acalmam a alma e intensificam o trémulo do corpo. A mente turva e desvia-se do ordinário pensamento que trago comigo, usual, organizado e encaixado como telhas de tectos velhos. Quero dizer que somos eternos - tão eternos como o meu cigarro - e acabo por o dizer a mim mesmo. Quando o cigarro acaba e tu desapareces, como éter volátil, regresso às minhas contemplações. Construo-me sobre cinza apagada, inocente e forte, convicto de que da próxima vez trazes contigo prolongamentos de sol e brilho. Que vais fazer com que os teus raios penetrem os espaços entre telhas velhas, reparando-as, como cola mágica e cintilante. Espero-te como cura secreta. Concretizo-te como destruição e cicatrização imperfeita.

7 comentários:

Anónimo disse...

escreves muito bem (:

Sahaisis disse...

Muito bonito e sentido este teu texto, julgo compreender bem esse sentimento que escreves...

Maria disse...

A música é muito bonita, mas acho que o blog vai ficar assim até a paciência me permitir muda-lo e dar-lhe o ar fresco de que necessita. Ainda assim, irei claro guardar a música para quando esse dia chegar. E não é que a inspiração voltou? Está lindo este texto, tão lindo.

Armanda Cunha disse...

irá chegar, com certeza!
obrigada :DD

ines disse...

muito obrigada. que escolha de palavras inteligente, muito bom!

Emmeline disse...

:)obrigada

felipe blanco disse...

por aqui na colonia os cigarros também se disfarçam de eternos e as musas também se trasvestem de veneno e pimponices.

aplique um jab de direita nas tuas angústias e recomeçe até ter outras completamente novas angústias.

a vida é angustiante e ao mesmo tempo muito tola.

tão tolinha que se a gente soubesse nem saia do útero.