quero deixar de escrever. perpetuo-me aqui, com estados que naturalmente tinham morrido mas que consigo perpetuar nas palavras exactas, escolhidas a dedo, vírgula por vírgula, mesmo quando estas parecem exageradas, assim foram escolhidas. mumifico ideias e sentimentos. escrevo muito de mim sabes? límpido a separar-me de olhos curiosos e sedentos de palavra e sentimento. escrevo tanto sobre mim. tanto sobre o mesmo. no fundo é-me triste ver que tenho andado a fugir do mesmo, a escapar-me aqui. sinto-me diferente, acho que encontro alguma utopia em dar de mim com a ideia de que é só isso. não há retribuição, não há expectativa. é um lugar morto. o meu caderno, o meu dedo calejado e eu. vem aí o verão, o que vou fazer em vez de escrever quando quiser estar comigo?
alguém, a dezanove de junho de 1985