19/06/12

summertime sadness


quero deixar de escrever. perpetuo-me aqui, com estados que naturalmente tinham morrido mas que consigo perpetuar nas palavras exactas, escolhidas a dedo, vírgula por vírgula, mesmo quando estas parecem exageradas, assim foram escolhidas. mumifico ideias e sentimentos. escrevo muito de mim sabes? límpido a separar-me de olhos curiosos e sedentos de palavra e sentimento. escrevo tanto sobre mim. tanto sobre o mesmo. no fundo é-me triste ver que tenho andado a fugir do mesmo, a escapar-me aqui. sinto-me diferente, acho que encontro alguma utopia em dar de mim com a ideia de que é só isso. não há retribuição, não há expectativa. é um lugar morto. o meu caderno, o meu dedo calejado e eu. vem aí o verão, o que vou fazer em vez de escrever quando quiser estar comigo?
alguém, a dezanove de junho de 1985

06/06/12


Aposto que hoje olhas para mim, com aquele sentimento hediondo de pena e caridade por uma alma que julgas perdida, em oceano infindável. Que olhas para mim hoje e me achas muito mais quebrado e ferido do que antes. Que possas até começar a questionar-te onde e quando terei deixado o meu célere coração exposto. Músculo denso exposto a sentimento danoso que o tornou fina folha de papel. Disrítmica e desacelarada.

04/06/12


Estar contigo vai ser sempre como sonhar sozinho. Falar contigo será sempre o voo raso, solitário e precipitante a que as minhas asas se habituaram. Continuas sem perceber o que se destruiu e o que havias encerrado no teu peito. Agora que não me tens amarras, aproveito e fujo para longe (tão longe) que julgo às vezes ir no teu sentido. Julgo-te, por vezes, escondido atrás de carvalhos a ver-me ruir e a apanhar cacos. Julgo-te em demasia. Sei que nem sequer sabes onde corro e porquê. Para ti não sou o conjunto de cacos em que me deixaste. Sou apenas leve brisa que te ensinou entranhas e que nunca quiseste prender. E eu que sabia disso há tanto tempo e nunca o quis ver... De qualquer das formas, talvez ainda bem que assim o foi. Hoje sou livre e posso correr à vontade e levantar voos como sempre. Só tenho pena de me teres deixado os braços tão magoados e doridos, ao suportar-te durante tanto tempo.