24/02/12


É desafio inócuo e quase frustrante tentar forçar cordas que teci, amarrei e atei. Querer estilhaçar pedaços de mundo - e já não mundo inteiro- e fazer com que eles se vaporizem em forma de pó brilhante que vai com o fumo do teu cigarro contornar o teu cabelo. Querer e até mesmo ambicionar a destruição dessa ideia de posse. Dessa ideia parva de que te tinha (- Tenho-te? Tens-me -) e que tudo o que colocaste à minha disposição era especialmente direccionado para mim. Talvez não tenha recebido assim tanto, afinal colocar ao meu alcance é diferente de me oferecer. Ideia absurda de que éramos sintonia e que só não nos era permitida a fusão por impossibilidades práticas (que pareciam pequenos pormenores) maiores que a névoa cintilante que agora vejo a rodear.

16/02/12


Era um ser que caminhava à destruição. Às ruas negras e sujas perto do Rivoli parei e acendia o meu cigarro setindo-o arranhar a minha garganta. O vento cortava-me a cara e o pedinte aproximava e já eu rodava o torso, Não-desculpe. Sentia a minha fúria por te deixar aproximar e por me começares a remodelar por dentro, bem lá no fundo. Aquele âmago escuro que era meu, e que me sustinha. De lá vivi em cores rosas escuras sem nunca me conseguir afastar por completo da fúria e lá desse fundo esperava por dias como estes. Aqueles em que escrever não custa. Aqueles em que tudo é pessoal, profundo na pele e cortante. Alturas em que percebemos que amamos até sangrar e em que tudo se mostra em câmara-lenta- o que fomos- porque a tempo normal seria pouco, muito pouco.